domingo, 23 de janeiro de 2011

Equilíbrio distante

Tomo a liberdade de "roubar" o título de um CD do Renato Russo (que é muito bom por sinal) para dar título a este post. É exatamente assim que vejo nosso mundo, principalmente nossa "religião" e até mesmo quem somos, bem distantes do equilíbrio ideal.

Deus criou o mundo num perfeito equilíbrio, tudo no seu devido lugar e na dose certa. Ele nos deu uma vida também para que pudéssemos desfrutá-la de forma harmoniosa com todas as coisas, natureza, pessoas e com Ele mesmo. Infelizmente o equililíbrio do qual éramos pra fazer parte dele no mundo já foi-se no Éden e está muito distante de voltar a acontecer. Com a nossa religião evangélica também não é diferente, ela está cheia de extremos, são muitos pensamentos e atitudes extremistas, longes do equilíbrio.

Qual o equilíbrio entre o lícito e o ilícito? Quantas regras inúteis vemos por aí roubando a liberdade que Jesus nos deu? Quantos pecados são cometidos sob a aprovação, vista grossa e às vezes até incentivo de uma igreja ou uma ala mais "liberal" dela?

Qual o equilíbrio entre discernir o que é sagrado e o que é profano? Quantas vezes estamos profanando o sagrado e santificando o profano? Quantas vezes buscamos Deus no mundo e o mundo em Deus? Quantos bichos de sete-cabeças colocamos no mundo, numa "demonização" sem pé nem cabeça? Quanta "santidade" colocamos na instituição igreja?

Qual o equilíbrio entre a fé e as obras? Fé demais e obra de menos não resolve, e vice-versa. E nestes extremos ninguém enxerga o que lhes falta. Quem nunca viu um que não faz nada condenar quem o faz porque seus motivos são teologicamente errados?

Qual o equilíbrio entre as promessas de Deus e os nossos deveres como cristãos? Eu percebo uma grande apropriação indevida de promessas que Deus fez individualmente e circunstancialmente no passado. Falam massivamente nelas, alimentam esperanças que estão condenadas à morte. Porém não se toca apropriadamente no assunto "caminhar em santidade", esquecem de que santidade e aparência religiosa são coisas bem distintas. Isto quando não se "comportam bem" motivados apenas pra ganhar o tão sonhado presentinho de "Jesus Noel". Existe também quem se esquece que Deus fez sim várias promessas e não dão valor e nem se deleitam nelas, isto é outro extremo.

Qual o equilíbrio entre a livre escolha e o determinismo? De um lado um que crê que o homem só faz o que ele quiser, Deus não pode fazer nada, não pode interferir; do outro lado um que crê que tudo que o homem faz foi porque Deus determinou, sendo assim conclui-se que todos os pecados também foram ordem de Deus. Como se equilibrar nestes extremos? Até onde vai a nossa responsabilidade e a de Deus? Como digerir tudo isto?

Qual o equilíbrio entre a letra e o espírito? Entre a teologia e a unção? De um lado vemos teólogos e pessoas de grande conhecimento bíblico que são apenas teóricas e vivem um cristianismo morto, frio, racional; do outro lado vemos gente com muito fervor, mas pobres de conhecimento bíblico, distorcendo princípios da Palavra, tentando viver uma vida tão "espiritual" que se desliga de seu contexto humano, físico, social. Como pode o evangelho ser tão incompreendido assim?

Qual o equilíbrio entre a fé e o sentimentalismo? De um lado cristãos que acham que todo emocionalismo é banal, carnal, etc; de outro lado cristãos que acham que ações comedidas são frieza espiritual. Qual o meio termo entre o extravagante e o discreto?

O evangelho é equilibrado. O desequilíbrio que vejo na religião é fruto do desequilíbrio do ser humano. Somos indivíduos diferentes, mas esta diferença não deveria ser tão antagônica e tão distante. Culpar a religião em si não seria tão justo, pois nós somos os culpados disto tudo, nós, os homens, que com NOSSA falta de equilíbrio criamos e somos influenciados por este tipo de coisa. A falta de equilíbrio nos faz sermos meros religiosos, egoístas, incapazes de refletir sobre o que dizemos crer. Na verdade somos vítimas de nossos próprios defeitos, de nossa própria cegueira, e a nossa religião evangélica é na verdade um grande reflexo de nosso desequilíbrio como indivíduos.

Deus não quer que sejamos religiosos, Ele só quer que vivamos sob seus princípios e valores, dos quais o amor é o mais importante. Somos o corpo de Cristo, não a religião de Cristo. Bom seria se a nossa religião não existisse, mas temos que conviver com ela, no mundo é impossível não rotular os segmentos e não padronizar as massas. Somos imperfeitos, consequentemente a nossa "religião" também é. Assim como precisamos nos aperfeiçoar a cada dia ela também precisa passar pelas mesmas reformas que nós. O dia que a religião for perfeita ela vai acabar, pois vai chegar à conclusão de que não deveria existir. Até lá temos que tentar mudá-la sem nos deixar subjugar pelos erros dela e sem vivermos numa religiosidade sem valor. Infelizmente falta equilíbrio até nos críticos que lutam contra os erros doutrinários, muitos se tornam agressivos e sem respeito ao próximo, esquecem de que devem ensinar com amor.

Nossa principal luta é contra nossa falta de equilíbrio pessoal pra pensar e agir, pois muitos erros nascem nesta falta (se não forem todos). Como se equilibrar entre a razão e a emoção? Como se equilibrar entre o amor e a paixão? Como se equilibrar entre o nosso bem e o bem coletivo? Como se equilibrar entre a nossa fé e a fé do outro? Como?

Pra finalizar eu pergunto: Quais os equilíbrios estão distantes em cada área de nossa vida? Só o Senhor sabe, e espero que Ele nos conceda a graça de ajustar o que precisa ser ajustado. Todos nós temos áreas ainda carentes de serem equilibradas com o propósito que Deus quer pra gente e precisamos pedir sempre que Ele mude profundamente nossos corações.

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