sábado, 24 de setembro de 2011

Santa inutilidade


Um ser humano que se sente inútil para a sociedade em torno dele normalmente entra num limbo existencial terrível. Mas, se tem uma coisa que todos nós gostamos muito de fazer, esta coisa se chama nada. Já dizia uma velha canção "♫nada melhor do que não fazer nada♫" e é verdade, nada como um lugar confortável, nada como uma atividade light pra dar uma relaxada, nada como uma sensação de isenção de deveres e compromissos, não é mesmo? Nada como os braços cruzados, a cabeça no espaço com os pés sobre uma nuvem macia, nada como não se envolver em coisas complicadas, nada como esquecer os problemas nossos e dos outros. Isto somos nós, e até chamamos estas coisas de bem-estar.

Outra coisa que gostamos de fazer na vida é criticar o que está errado, nisto somos mestres e muitas vezes ferrenhos, implacáveis. Hoje nós criticamos bastante a igreja, na grande maioria das vezes justamente; condenamos os desvios de caráter, o mal farisaísmo que existe, a falta de compromisso com os valores cristãos, com a santidade que o Senhor requer de cada um e assim vai. Em meio a tantos erros as falhas dos outros se tornam insuportáveis, e começamos a pensar que ninguém mais presta e o nosso fariseu (não o fariseu que Deus se agrada, mas aquele combatido por Jesus) mostra suas garras e então sentimos nojo de tudo que lembra igreja e damos ouvidos à uma voz interna (que imita a Dona Florinda) nos mandando não nos misturarmos com esta gentalha. É mais ou menos assim que funciona, é ou não é?

Tem muita gente que não renegou a fé em Cristo, mas está afastada da igreja por conta de erros graves cometidos pelos quais se esperavam um comportamento mais condizente com o evangelho. Se afastar de um lugar que não prega o verdadeiro evangelho (digo a bíblia toda e não só a parte que agrada aos homens em geral) não é o problema, mas o problema é que preferem acompanhar de longe. Muitos não congregam mais, outros nem se dizem cristãos mais, criticaram tanto este farisaísmo hipócrita que não se mistura com pecadores e acabaram agindo igual, se separaram do corpo por julgá-los gente "ruim". Se esqueceram que sempre vão existir 7.000 joelhos que não se dobram e que Paulo, sob influência do Espírito Santo, disse pra não deixar de congregar. Sempre tem lugar pra ir e pra ser útil neste lugar. Sabe que proveito tem um membro fora do corpo? Nenhum. Sabe que diferença vamos fazer pro Reino se não ficar claro para as pessoas que seguimos os ensinamentos de Jesus? Nenhuma, pois eles não vão adivinhar quem Jesus é se não falarmos. Não adianta nada nos acharem boas pessoas sem saberem que por trás de "nossa" bondade tem um Deus que nos transforma.

É muito cômodo ser um frequentador de igreja, é muito cômodo ser um anti-gospel, é muito cômodo usar a Graça como desculpa pra uma vida medíocre, sem se envolver com alguma coisa que exija esforço. É muito cômodo reconhecer nossas limitações, nossa incapacidade e não fazermos nada pra melhorar, pra aprender, pra sermos úteis. É muito cômodo nos acovardarmos quando sabemos que podemos fazer algo mais, por mais difícil que pareça ser. É muito cômodo nos omitirmos e passar a responsabilidade pra outros.

Jesus certa vez disse para que rogássemos ao Pai pra que Ele envie trabalhadores pra Sua ceara, Ele falou isto certamente porque sabe que ninguém quer trabalhar, se envolver; ninguém quer pagar o preço de ser útil. É mais fácil apenas observar, comentar, analisar e criticar, não fazer nada além disto; mas Jesus nos chamou com o propósito de sermos úteis para o seu Reino, foi para darmos fruto que Ele nos chamou. E para uma plantação dar fruto há todo um trabalho, é preciso plantar, regar diariamente, podar e colher. E apesar de não frutificarmos por conta própria (sem Jesus nada podemos fazer), somos co-responsáveis pelo nosso processo de crescimento espiritual e pelo benefício que podemos trazer aos outros.

Voltando ao início do texto, nos dói muito quando vemos que somos inúteis para produzir algo pra sociedade à nossa volta, mas quando mudamos o foco pro Reino de Deus não nos dói nada esta inutilidade. Alguns ao ver que estão ficando inúteis pra sociedade ainda tentam aprender algo, se esforçam pra ter alguma utilidade, mas quando é para o Reino a grande maioria de nós não faz nada. Todo cristão possui no mínimo um dom/habilidade concedido pelo Espírito, e normalmente a gente não busca sequer descobrir quais dons/habilidades Deus nos deu pra edificação do corpo de Cristo. Se não preocupamos nem em descobrir, quanto mais em buscar dons pra termos mais utilidade pro Reino! Não nos preocupamos com nada disto, afinal nossa vida secular já tem trabalho demais por fazer, temos que crescer profissionalmente e garantir um "futuro melhor", ou então temos que ter um bom tempo só nosso pra descansar. Existem muitos por aí que possuem dons e até já foram usados por Deus, mas se afastaram do convívio com o corpo por alguma decepção ou diferença de pensamento e estão desperdiçando algo tão precioso.

O significado de ser útil ao Reino não é só servir à igreja como muitos pensam, não é só pregar, não é só não dar mal testemunho, é também servir ao próximo, é também ter misericórdia dos que sofrem. Ser útil ao Reino é amar com aquele mesmo amor que recebemos do Pai, é dar um passo em direção a quem nem merece ajuda de ninguém, é levar esperança aonde não existe mais pelo que esperar. Ser útil ao Reino é levar o evangelho junto com a ação social, é dar e fazer as pessoas perceberem que é Deus quem as está dando através de nós, e não porque somos bonzinhos, mas porque Deus é bom e Jesus se importa com elas. O resto do trabalho é o Espírito Santo quem vai fazer, só Ele pode trazer o arrependimento e a conversão para as pessoas.

Você alguma vez já se sentiu inútil para o Reino? Já olhou pra sua vida e parou pra pensar se está sendo apenas um ouvinte da Palavra ou se coloca em prática o serviço que ela requer de você? Eu me sinto assim algumas vezes e não há como negar que estou devendo muito, mas sentir isto é bom sinal, quer dizer que Deus está me despertando desta vida insignificante. O evangelho foi a coisa mais importante que aconteceu em nossas vidas e muitas vezes o reduzimos a um mero acontecimento que nos remete apenas a deixar de fazer algumas coisas erradas, raramente a fazermos alguma coisa útil para o Reino. Sempre seremos servos inúteis, pois não podemos fazer nada por nós mesmos, mas podemos ser instrumentos pelos quais o Senhor vai fazer muitas coisas.

Os capítulos 12, 13 e 14 de Coríntios falam acerca do assunto dom espiritual, o contexto de todos eles é o dom, o serviço que devemos nos prestar, com amor, para edificação de todo o corpo. O ideal era cada um ajudando a cuidar do outro, cada um com uma função (que é intransferível), cada um se completando, mas muitos não conseguem nem cuidar de si mesmos sem ajuda e aí que se faz necessário que trabalhemos.

Sabemos que seara é grande e são necessários muitos trabalhadores, diante disto pedir ao Pai que envie trabalhadores é até fácil; difícil é a gente se oferecer como um destes trabalhadores, difícil é estarmos dispostos a deixar nossa "santa" inutilidade para sermos úteis para o Senhor (Aquele quem dizemos ser o dono de nossas vidas, amor maior do nosso coração).

7 comentários:

  1. Muito bom, expôs seu ponto de vista com amor, é assim q tem de ser. As visão crítica pode e deve existir é saudável o q não dá é sair metendo os pés pelas mãos como li em um texto dia desses, afastando muito mais quem já esta afastado. Pronto e falei, rsrs

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  2. Pois é, amiga. O que mais tem é intolerância, ofensas, e isto é de ambos os lados, tanto de quem critica a igreja quanto quem a defende dos críticos. Aí no final das contas a gente vai ver nenhum dos lados tá fazendo o que Deus requer de cada um, ninguém está buscando ser útil como deveria ser...

    Bjo!

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  3. Gostei muito! Adorei, como sempre. Muito bom vir aqui te ler. Paz!

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  4. Muito obrigado por dar uma passadinha aqui, Rô!
    Paz! Deus te abençoe!

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  5. Oi, Fabiano!

    Que possamos nos livrar daquilo que nos acomoda...

    Parabéns pela reflexão!

    Grande abraço,

    Denyse

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    Respostas
    1. Oi, Denyse! Amém! Obrigado!

      Sua visita é muito importante pra mim.

      Abraços,
      Fabiano.

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  6. Oi, Fabiano!

    Eu que tenho de agradecer...

    Ler os seus textos, tão ricos, é uma honra para mim!

    Abraços,

    Denyse

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